Com 44 anos de carreira, o carioca que escolheu o Ceará como lar,
Ricardo Schmitt, rememora sua trajetória profissional e fatos marcantes
na história do país registrados através das suas lentes na exposição Ricardo Schmitt - Documenta.
Serão mais de 40 fotografias expostas na galeria Antônio Bandeira,
localizada no Centro de Referência do Professor, de 10 de setembro até o
dia 31 de outubro. No dia da abertura, haverá coquetel para convidados a
partir das 19h.
A exposição é o resultado do prêmio do Edital das Artes 2010, da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) e conta
com a curadoria da Lumiar Comunicação e Consultoria. “Nosso objetivo é
documentar o trabalho de Ricardo Schmitt, nome importante na
consolidação da fotografia em Fortaleza, principalmente nas décadas de
70 e 80. Ele atuou de forma incisiva no fotojornalismo e na moda,
além da publicidade, alcançando penetração na mídia impressa do Ceará e
do eixo Rio-São Paulo”, afirma a coordenadora da Lumiar, Dora Freitas.
Contando com um acervo de cerca de 200 mil imagens, Schmitt
conta que o trabalho que resolveu mostrar nessa exposição tem pouco a
ver com a beleza fotográfica. No foco, imagens que retratam fatos
históricos, personagens relevantes na esfera política e social
brasileira, mas revelam também o fazer jornalístico de uma época marcada
por grandes desafios.
“Quando comecei a trabalhar no Ceará, os jornais e agências não
tinham grandes e modernos estúdios, principalmente por aqui. Viajava
pelo sertão e pelas capitais nordestinas de carro e os filmes
fotográficos sofriam os efeitos do calor. A revelação era feita no Rio e
em SP, pelos veículos de comunicação para os quais prestava serviço.
Então, os filmes seguiam por malotes ou por avião, sempre numa luta
contra o tempo para chegar no prazo do fechamento”, relembra o
fotógrafo.
Enquanto Schmitt prepara um projeto para digitalizar o seu acervo e
arquivar no Museu da Imagem e do Som (MIS), seu trabalho já está sendo
divulgado através do site http://www.ricardoschmittdocumenta.com.br.
Sobre Ricardo Schmitt – Quando saiu da casa dos pais aos 14
anos, no Rio Grande do Sul, para ganhar o mundo, Ricardo não tinha ideia
de que rumo a sua vida tomaria. Seguiu, aos 16 anos para o Rio de
Janeiro, sua cidade natal, onde reencontrou o irmão José Gentil.
Renomado fotógrafo na área de eventos, ele já tinha um grande estúdio e
foi lá que Ricardo Schmitt começou a trabalhar, em 1968, a princípio
como serviços gerais.
Em seis meses, ele já estava atuando como assistente de fotografia e
se arriscando em alguns trabalhos por conta própria. “Meu irmão me deu
uma profissão”, diz agradecido. Depois de alguns cursos na área e de um
breve estágio no jornal O Estado de São Paulo, deu início à sua carreira
no fotojornalismo com a contratação pela revista Manchete em 1970, onde
permaneceu até 1974
Surge então a primeira oportunidade em publicidade, como freelancer
da Manchete em Manaus (AM), mercado promissor à época por conta da zona
franca. Depois de 10 meses, retorna ao Rio de Janeiro com equipamentos
de ponta e volta a trabalhar com o irmão. Os contatos acabaram por
render até uma capa de disco de Artur Moreira Lima, além de fotos para
Ney Matogrosso e Lenny Day, grandes nomes da música.
Em 75 foi contratado por agência em Belém (PA), a Mendes Publicidade,
que apesar da distância do eixo Rio-SP, era reconhecida dentro e fora
do país. “Implantei o laboratório e o estúdio fotográfico, fiz vários
trabalhos interessantes e foi por lá que fiz os primeiros contatos com
profissionais do Ceará”, conta.
Foi assim que Schmitt chegou à Fortaleza, em 1977, para montar o
laboratório e o estúdio da Mark Propaganda. Vislumbrando um mercado
totalmente novo, em 78 realizou visitas aos veículos de comunicação de
São Paulo oferecendo seus serviços como freelancer e já retornou com uma
pauta sobre Padre Cícero para os encartes da Editora Abril intitulados
“Nosso Século”.
Através desse trabalho, conheceu o historiador e jornalista cearense
Nirez, que rendeu uma nova pauta, agora para a revista Veja, publicação
para a qual prestou serviço durante 14 anos e onde foram publicadas mais
de 600 fotos de sua autoria.
Em 84, Schmitt abre a agência de fotojornalismo Reflex em Fortaleza,
situada no Edifício Casablanca, na Av. Santos Dumont, que mais tarde
iria sediar também editoras e revistas de fora do Estado interessadas no
mercado em plena expansão. Um dos principais produtos para qual a
Reflex colaborava era a Revista Moda Quente, dirigida por Wania Dummar e
redigida pelo jornalista Ivonilo Praciano, que incrementou o mercado
de moda no Ceará e era reconhecida pela sua qualidade no Sudeste. Com o
aquecimento dos negócios e essa vitrine para fora do Ceará, "as editoras
de moda do país passaram a dar maior atenção ao que era produzido aqui.
Nesta leva, multiplicaram-se os editoriais para Moda Registrada, de
Maria Helena Castilho - a maior autoridade na época - Toda Moda, Moda
Brasil, Etiqueta, Claudia Moda, Domingo JB e Desfile, somente para citar
alguns veículos. Foi assim que o mercado se consolidou e proporcionou
muito trabalho para o pessoal local", relembra o fotógrafo.
Além da moda, a expansão da indústria e do comércio no Estado, a seca
nordestina e as chuvas foram fatos que marcaram as décadas de 70 e 80,
atraindo a atenção do resto do país. Todos esses acontecimentos foram
registrados pela Reflex, que reuniu em seu portfólio clientes como Veja,
O Estado e a Folha de São Paulo, O Povo e Diário do Nordeste,
encerrando as suas atividades 26 anos depois de sua inauguração, em
2008.
Serviço:
Exposição fotográfica Ricardo Schmitt – Documenta
De 10/09 a 31/10
Local: Galeria Antônio Bandeira
Endereço: Rua Conde D’Eu, 560, Centro – Centro de Referência do Professor
Horário: De segunda à sexta-feira, de 9h às 18h. Aos sábados, de 9h às 13h.